sexta-feira, 26 de abril de 2019

VR – VELOCIDADE REDUZIDA


Na ChuPeTreM, desde sua fundação, se fala que o futuro da empresa seria a privatização. Pois o futuro chegou. Ou, dito de outro modo, a água começou a bater na bunda e ninguém sabe nadar.
Anos atrás um Chifre dizia em um treinamento que no seu corpo não tinham veias, mas sim trilhos, pelos quais circulava o seu sangue. Ele se achava o máximo dizendo isso para nós que iniciávamos a carreira como Ferradoários; o pior que muitos acreditaram nele e incorporaram essa entidade que é o Ferrorama. Tenho colegas que assim que entraram na ChuPeTreM logo começou a ter caso com FX, separou de esposa, passou a pagar pensão, e não foram poucos os que incorreram no vício da bebida e do pó, trabalhando até mais do que deviam para sustentar esse prazer nas bilheterias, mas isso já tem sido assunto demasiadamente comentado nesse oráculo do descarrilamento da ChuPeTreM.
Fato é que temos visto, nas Líbias do Oeste Sorocabano a visita de profissionais do posto médico, preocupados não só com a produtividade e a apresentação dos escravacionais, coisa que sempre foi rotineira, o caso agora é de terror mesmo. Com a iminência da privatização dos trilhos através da concessão à CCR instalou-se um clima fúnebre entre as pessoas. Há um clima de morte do futuro que até pouco tempo imaginavam que teriam e, com a morte do futuro, muitos ferradoários já oralizam sua disposição em tirar a vida, isso mesmo, se suicidar quando receber o comunicado de desligamento.
Um colega, exemplar perfeito desses hábitos adquiridos na ChuPeTreM e citados acima já declarou que, recebendo a notícia, simplesmente vai abandonar o posto e se jogar na frente do primeiro trem, se matará em plataforma pública. Tem havido relatos de insônia, de excesso no consumo de gêneros etílicos e muitos de coisas até mais fortes; se é que me entendem.
Perguntado se prefere ser notificado por telegrama, e então convocado a comparecer para a rescisão de contrato em data marcada não seria menos traumático o rapaz respirou fundo, suas veias do pescoço saltaram e, mais calmo, ele simplesmente disse que não irá fazer rescisão de contrato. Usará o bilhete de serviço pela última vez, mas irá terminar a vida nos trilhos. Segundo ele a vergonha será irreparável, pois, da família, foi o único que conseguiu ter um bom emprego e, depois de vinte anos de empresa não conseguiria olhar para a esposa nem para os filhos com a vergonha do fracasso.
Esse, entretanto, não é um caso isolado, pipocam, aqui e acolá, colegas desesperados, insones, abusando de café e outras drogas para ir claudicando até o dia fatídico em que já se enxergam sem futuro algum. Uma coisa é certa, se ocorrer como têm dito que farão, no dia que a ChuPeTreM passar para mãos particulares, e esses funcionários forem desligados, será um dia de muito trabalho no Quartel da ChuPeTreM e o trem vai circular em Velocidade Reduzida.

Um comentário:

Angelina july disse...

Ainda bem que o blog é de conteúdo fictício.
Aqui na chupetrem estamos acompanhando histórias muito parecidas com essas relatadas ou caso contrário de pessoas achando que tudo vai passar assim como foi nos últimos 23 anos...