Amigo leitor o Ferrorama do Estado dos Bandeirantes vive
um momento funesto entre seus “colaboradores”. Há entre os Ferradoários, a cada
dia mais ferrados, presságios de dias e noites terríveis com a iminência da
terceirização das Líbias; a começar pelas Líbias Diabos-aos-Montes e a do Hulk,
a Gigante Esmeralda que estão na iminência de serem entregues até o fim de
2020.
Reajuste Salarial não há perspectiva de ocorrer,
aposentados têm sido demitidos a torto e a direito e o Plano de Demissão
Incentivado não tem incentivo algum, o que se enxerga num horizonte próximo é o
fim do Ferrorama. Aqueles que não forem para a rua agora não têm segurança
alguma e, se ficarem, terão que amargar outra jornada, só que, nesse caso, se
deslocando para outro extremo da cidade para, em troca de salário, garantir a
continuidade da humilhação nos trilhos do Ferrorama.
As Líbias Se-Transfira e Cobra-Coral já têm Edital sendo
preparado por alguma CCR. Advinhem quem vai arrematar esse lote?
Só não ocorrerá uma transferência direta as Líbias da
Marquesa e Roubi, pois não foram achados os documentos que transferiam da
Empresa Santos-Jundiaí e, desta, para a REFESA, tampouco da REFESA para São
Paulo. Quem é o dono dessa bomba?
Logo alguém convida os ingleses a reassumir a Estrada de Ferro que era de Mauá. Seria a volta da São Paulo Railway. A ChuPeTreM é isso, uma casa da mãe Joana, ou um Sai de Baixo, porque, como dizem, o bagulho é louco.
Bom, o leitor pode estar se questionando o que tem a ver
o livro da filósofa Hannah Arendt com essa bagunça toda que é o Ferrorama
Paulistano. É que diante dessa bagunça o livro da filósofa surgiu na memória
desse comentarista como uma referência que explica o fim dessa empresa vital.
No livro Arendt narra como Adolf Eichimann, considerado um nazista sanguinário,
que teria planejado o morticínio de milhares de judeus e foi preso pelo Mossad,
mais ou menos uma CIA de Israel, levado e julgado em Jerusalem pelo judiciário
judeu em um midiático evento. Primeiro que o esperado monstro, frio e
sanguinário que era esperado, nunca foi avistado. Em seu lugar se verificou que
Adolf Eichimann era um homenzinho simples, honesto, obediente; um sujeito
subalterno e obediente que, em sua defesa, alegava que apenas estava cumprindo
ordens.
No livro, recomendável a todos, Arendt nos leva a
entender que, através da burocratização da relações e da submissão dos homens
comuns às ordens que emanam das autoridades, muitas vezes Chefes e Chifres como
vários que vemos na ChuPeTreM, e considerando que estes últimos não passam,
eles também, de homenzinhos, banalizamos o mal e seus efeitos pela negação e assumir
postura crítica e responsável por nossos atos, como se os mandatários fossem os
“verdadeiros responsáveis” pelo mal que cometemos ao cumprir ordens honestamente.
O processo social de convivência gera sujeitos medíocres que, furtados
passivamente de seu raciocínio crítico, ávidos por ordens que lhes garantam
inclusão e, incapazes de ligar os pontos e vislumbrar o mal que cometem
cotidianamente com suas omissões e com sua cumplicidade dócil, são a própria
encarnação do mal. Algozes e também vítimas da própria incapacidade de erguer a
cabeça e ser melhores que meros peões no tabuleiro de xadrez da sociedade,
matáveis e matadores de seus iguais.
O mal não é algo demoníaco, exercido por uma entidade
Dantesca que condena as pessoas a círculos diferentes conforme seus “pecados”.
O mal, esse nosso conhecido diário e banal é praticado nas omissões e nos
individualismos e o que se vê por ora no moribundo ferrorama não é produto da
ação nazista de um partido político, ou de algum füher; mesmo que este tenha
alcançado o êxito de promover uma ditadura eleita democraticamente por mais de
duas décadas no Estado. O que se vê é produto na sujeição dos peões e das
pessoas em geral à lógica de que os chefes, ou o gerente ou o governador sabem
o que é melhor para a vida dos governados, mesmo que, por melhor, entenda-se a
condenação à câmara de gás.
Nem isso será o fim dos Ferradoários, sua morte é por
asfixia, nem gás lhes será concedido. E se procuram um responsável por isso é
fácil; basta se olhar no espelho. Foi a submissão à burocracia, a covardia e a
acomodação que fizeram com que chegassem a isso. Eichimann ou os Ferradoários
Julgados em Jerusalem ou em São Paulo mesmo, servidores medíocres, queixosos e
lamurientos, que procuram responsáveis externos pela desgraça que sua omissão e
covardia precipitou a si mesmo. Devolvam aos ingleses, talvez eles tenham algo melhor
a fazer com o Ferrorama.