sexta-feira, 31 de maio de 2019

PERIFERIA RICA


No uso idiomático se pode dizer que o que é periférico é acessório, ou seja, secundário em termos da centralidade de algo mais valioso, importante ou útil. Nem sempre, é verdade, como poderá me advertir o nobre leitor e com razão; e posso exemplificar usando como parâmetro o computador que ora uso para lhes redigir essas linhas, no computador o teclado que me permite redigir, é um acessório, assim como o mouse, ou rato como acertadamente nomeiam os portugueses, contudo, não são menos importantes que a central de processamento ou o monitor, pois, sem esses “periféricos”, seria inviável, ao menos no atual grau de desenvolvimento tele cinético dessa que vos escreve, redigir um texto.
Há, é verdade, outras coisas periféricas que são dispensáveis, exemplo disso é o vidro elétrico no automóvel, ou o ar-condicionado, cujas ausências não alteram ou impedem o uso do veículo. Vale lembrar que esses acessórios, ou periféricos, em geral são substancialmente mais baratos que o produto principal (grifo intencional).
O leitor menos afeito a me ler pode se perguntar, talvez com certa indignação, o que tem a ver esse jogo de palavrar com o nosso querido, idolatrado e salve-save Ferrorama. Aguardem um pouco mais!
Foi publicado num site da gringa (https://bit.ly/2YZiQKs) que o Ferrorama será transferido à inciativa privada já em setembro desse ano. Será?
Pois bem, no distinto e isento texto, o jornalista destrinça detalhes da PPP (Parceria Público Privada), e canta as loas publicizadas pelo Estado Bandeirante para vender a negociata. Se não bastasse o suposto investimento de 3 bilhões de Reais exigidos como contrapartida do investidor da privada só se fala em aumento de embarques e deixa subentendido o quanto isso será lucrativo para o investidor. Será que o contrato prevê garantia de lucro?
Do contrário a contrapartida corre riscos. Sabemos que empresário não é bonzinho, não está necessariamente preocupado com as pessoas, ou seja, seu foco é dinheiro e, se não der o retorno esperado como é que o Estado leniente irá fazer valer o contrato?
Ficaria até amanhã levantando questionamentos, mas isso só extensa o post e adia a conclusão inevitável. Gente não tem valor, o ChuPeTreM das Líbias do Oeste que virou uma Surubacana não está sendo melhorado para qualificar a vida ou a experiência do passageiro, foi modernizado, ou seja, sofreu uma injeção de recursos públicos para se tornar atraente para os investidores da privada. Trabalhadores, ansiosos pelo temor do desemprego serão os últimos a ser avisados e a periferia, ou subúrbio como escrito no texto da gringa, pobre em serviços, tem apenas que contribuir com o incremento de arrecadação através do uso do transporte, não importa, senão, para isso.
O que é principal, central e elitista tem valor; periférico, acessório e suburbano é substituível, logo, descartável.
Só não se pode esperar que seja crível que a experiência Bandeirante será melhor que a experiência Guanabara. Aqui, como lá, gente é periférica, acessória, e não essencial para rodar a máquina, mas rica em migalhas que ao ser recolhidas, ou exploradas, geram somas vultosas para alegrar investidores de merda.


segunda-feira, 20 de maio de 2019

HÁ VANTAGEM NO ATRASO?


Os ferradoários das Líbias do Leste, e também da Líbia da Marquesa, estão ansiosos. Há grande tensão entre aqueles quadros em virtude das famigeradas histórias de concessão das Líbias do Norte e do Oeste Sorocabano.
Se de um lado os escravacionais temem demissões que, segundo os Chifres, seriam inevitáveis com a transferência de alguns serviçais daquelas Líbias, Líderes temem que, com o desembarque de velhos Escorregadios, promovidos quando ainda se fazia concursos internos, muitos perderão as vantagens financeiras de liderarem equipes e voltem para as bilisketerias. O estresse só não se instalou completamente, ainda, em virtude do atraso.
Entre os serviçais das Líbias que ainda não foram envolvidas nas negociatas da administração Doriana com os “gravatinhas” do “livre mercado” o atraso é considerado uma vantagem. Esses trabalhadores entendem que, com a inequívoca precariedade das instalações e dos trechos em que atuam, essa parte do ferrorama não seria interessante para a iniciativa de ser jogado na Privada, e que investidores não estariam dispostos a despender tantos recursos para modernizar em virtude de um lucro que seriam diminuto se comparado com os que serão alcançados nos trechos já negociados.
"Quanta Barriga, Sr. surpresa, eu não o aguardava!"
Entre Maquineteiros não é diferente, pois, segundo um Míope de Atração, não deve ocorrer mudanças tanto no trecho cedido quando no resto do ferrorama em virtude da alta especialização daqueles choferes de trem. Na visão do Supercego seria necessário um  investimento vultoso para a contratação de novos serviçais de condução e, por isso, esse segmento da categoria seria inteiramente absorvido e o que é mais importante, no devaneio dele, haveria manutenção de salários e benefícios, pelo menos, a médio prazo.
Um maquineteiro que atua no Brazeiro comentou, inclusive, que o governo Doritos pode se livrar de manutenção e bilhetagem facilmente, terceirizando a operação desses serviços, mas a-Tração e o Centro de Controle OperacioMal são estratégicos e de uma especialização e complexidade que torna inviável sua exclusão do setor estatal. Será?
Há muitas perguntas ainda por responder. Respostas cujo tempo será o emissário; mas diante das contradições verificadas nas conversas mantidas com esses setores uma coisa é inegável, a divisão que sempre impediu os trabalhadores ferrados de alcançar mais vantagens, incentivos e melhorias na condição de trabalho não muda nem na hora em que muitos, senão todos, caminham para o abraço mortal da concessão ou terceirização. Só não podemos negar que, nesse atraso, não há vantagem, antes prejuízo para todos e perceberão quando a grande barriga da verdade lhes bater na porta.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

PRIVATIZAÇÃO, OU DESASTRE?



Descarrilamento da Rumo em São Vicente-SP.
Todos sabem nos dias de hoje que privatizar significa que o governo, em determinado momento, resolve transferir serviços ou empresas que inicialmente são patrimônio público, ou seja, estão sob propriedade do Estado e têm o erário como suporte financeiro, para as mãos de particulares. Essa prática se tornou comum no Brasil nas últimas décadas, em especial após a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Àquela época, como ocorre atualmente, a justificativa é que a empresa sob o controle estatal causaria prejuízos econômicos ao Estado em virtude da burocracia, ineficácia da máquina pública e, especialmente, devido a corrupção. Será?
Há muita discussão a esse respeito, mas os resultados, quase trinta anos depois da onda privatizatória tem provado que não é bem assim. Fatos como as rupturas das barragens de rejeitos em Mariana e Brumadinho, ambas da Vale do Rio Doce em Minas Gerais, tornam inequívoco que quando uma empresa é privatizada seu compromisso – e não poderia ser diferente no capitalismo selvagem em que vivemos – é apenas e unicamente o lucro.
Não importam os funcionários, nem a preservação ambiental; o foco é apenas o vil metal. Nem que para isso seja necessário matar pessoas, rios, contaminar lagos, lençol freático, a atmosfera, destruir fauna, flora; em alguns casos até cidades inteiras como vimos em Mariana.
Hoje os trilhos paulistanos foram uma nova vítima do desvario rentista do empresariado que arrenda empresas ou serviços que, outrora eram públicos. A RUMO, maior empresa ferradoária do país, protagonizou um descarrilamento na cidade de São Vicente. Pelo menos quatorze vagões saíram dos trilhos e desperdiçaram mais de mil toneladas de soja, de acordo com reportagem do portal G1 (https://glo.bo/30s66NZ).
Mais de mil toneladas de soja se perderam.
Vale ressaltar ainda que, a exemplo do que dissemos acima, que empresas têm compromisso apenas com o lucro, a citada Concessionária Ferradoária é pródiga em desrespeitar relação a preservação ambiental; tanto que em matéria recente do Jornal Folha de São Paulo (https://bit.ly/2IGCAhT) veio a público que foi necessária a aquisição de ações por índios Guaranis para que, uma vez acionistas da empresa, pudessem ter voz em suas reuniões e assim denunciar aos demais acionistas o descumprimento de obrigações compensatórias da empresa nos trechos em que administra.
A essa altura se impõe a reiteração da pergunta: Será que privatização faz mesmo bem? A quem?
Certamente aos acionistas majoritários, regiamente remunerados com lucros obtidos através da exploração desregrada de recursos naturais, vidas humanas e da destruição cultural e social como a havida nas cidades mineiras destruídas pela Vale do Rio Doce e pelos índios, agora acionistas, da ferroviária Rumo. Alguém acredita que o Ferrorama ChuPeTrêMico terá destino melhor após alguns anos de privatização?
Fato é, entretanto, que alguns loucos vão gritando para o abismo, os ferradoários, ao contrário, parecem estar indo em silêncio mesmo para o abismo e para o desastre da privatização.