terça-feira, 30 de abril de 2019

SUA BAIXEZA, O BODE


Alteza é o pronome de tratamento usado para se dirigir aos reis, rainhas, ou às antigas casas imperiais. Para simplificar poderíamos dizer apenas que tal denominação definiria a superioridade ou o maior valor de alguém socialmente e, entre os ferradoários, o rei é o Bode. Apesar disso o adjetivo que define o tratamento dispensado à corte simplesmente não se aplica, o que sempre se verifica é a baixaria.
O motivo do incomodo ora verificado é a cobrança, dos escravacionais que o Bode sabe que têm futuro incerto, de valores variáveis de uma tarifa sobre os vencimentos vindouros. Àqueles que já pagam o dízimo para a manutenção do caprino ser-lhes-á descontados mais o valor de uma mensalidade e, para aqueles que simplesmente não pagam o dízimo, ser-lhes há imposto o pedágio de 5% (cinco por cento) de um ordenado. Tudo devidamente aprovado em uma de suas assembleias fantasmas. Facilmente se arrecadará mais de meio milhão de Reais sem ter feito nada além do que desempenhar o papel que a legislação lhes concede: o de representante sindical.
O movimento sindical entre os ferradoários já é considerado por todos o faz-me-rir da representação trabalhista. E não é por falta de compreensão do processo, longe disso, é porque simplesmente não iriam jamais se colocar como entidade classista em prol de uma categoria omissa, como é a nossa, e se indispor com a galinha dos ovos de ouro, como se referem à ChuPeTreM. À época do assassinato doméstico e nunca elucidado do Bode Velho até se esperou que ocorresse alguma mudança que promovesse a organização da categoria em torno de uma pauta que defendesse necessidades comuns, mas não foi o que se viu.
Após a misteriosa morte o novo líder era visto com desconfiança por todos, e o que se viu não causou estranheza a ningém. Uma entidade já burocrática, fisiológica com a empregadora, estava por fim domesticada e submetida aos interesses dos lacaios da ditadura que foram encostados na secretaria estadual de transportes para atuar como inteligência em questões sindicais. Gente astuta e ardilosa que, em troca de pequenas vantagens a Bodes – ora pretos, ora mansinhos – manteve, quando foi necessário, o rei sem alteza que lhes era útil para operar o mal sem oposição nos trilos bandeirantes.
O ACT que no corrente se assinou surpreendeu a todos, primeiro pela facilidade e, depois, pela generosidade do Ferrorama em oferecer dividendos que, embora parcos, superavam o que era reivindicado.
Sabe-se agora que tal plano bem orquestrado tem como finalidade única manter sob controle os ânimos, já suicidas de alguns, com a iminência das demissões que serão impostas em breve à categoria. Gente que foi vendida e que pode passar agruras graves, e antes ainda da desgraça serão furtadas com a omissão de diretores que ora fogem das pessoas em estacionamentos, pátios e escalas sem ter como se justificar por servir como jagunços da exploração coletiva. Tudo em nome da manutenção – peço licença ao leitor pelo neologismo – excrescência “cinical”, o império de Sua Baixeza, o Bode.

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