Na ChuPeTreM,
desde sua fundação, se fala que o futuro da empresa seria a privatização. Pois
o futuro chegou. Ou, dito de outro modo, a água começou a bater na bunda e
ninguém sabe nadar.
Anos atrás um
Chifre dizia em um treinamento que no seu corpo não tinham veias, mas sim
trilhos, pelos quais circulava o seu sangue. Ele se achava o máximo dizendo
isso para nós que iniciávamos a carreira como Ferradoários; o pior que muitos
acreditaram nele e incorporaram essa entidade que é o Ferrorama. Tenho colegas
que assim que entraram na ChuPeTreM logo começou a ter caso com FX, separou de
esposa, passou a pagar pensão, e não foram poucos os que incorreram no vício da
bebida e do pó, trabalhando até mais do que deviam para sustentar esse prazer
nas bilheterias, mas isso já tem sido assunto demasiadamente comentado nesse
oráculo do descarrilamento da ChuPeTreM.
Fato é que temos
visto, nas Líbias do Oeste Sorocabano a visita de profissionais do posto
médico, preocupados não só com a produtividade e a apresentação dos
escravacionais, coisa que sempre foi rotineira, o caso agora é de terror mesmo.
Com a iminência da privatização dos trilhos através da concessão à CCR
instalou-se um clima fúnebre entre as pessoas. Há um clima de morte do futuro
que até pouco tempo imaginavam que teriam e, com a morte do futuro, muitos
ferradoários já oralizam sua disposição em tirar a vida, isso mesmo, se
suicidar quando receber o comunicado de desligamento.
Um colega,
exemplar perfeito desses hábitos adquiridos na ChuPeTreM e citados acima já
declarou que, recebendo a notícia, simplesmente vai abandonar o posto e se
jogar na frente do primeiro trem, se matará em plataforma pública. Tem havido
relatos de insônia, de excesso no consumo de gêneros etílicos e muitos de
coisas até mais fortes; se é que me entendem.
Perguntado se prefere
ser notificado por telegrama, e então convocado a comparecer para a rescisão de
contrato em data marcada não seria menos traumático o rapaz respirou fundo,
suas veias do pescoço saltaram e, mais calmo, ele simplesmente disse que não
irá fazer rescisão de contrato. Usará o bilhete de serviço pela última vez, mas
irá terminar a vida nos trilhos. Segundo ele a vergonha será irreparável, pois,
da família, foi o único que conseguiu ter um bom emprego e, depois de vinte anos
de empresa não conseguiria olhar para a esposa nem para os filhos com a
vergonha do fracasso.
Esse, entretanto,
não é um caso isolado, pipocam, aqui e acolá, colegas desesperados, insones,
abusando de café e outras drogas para ir claudicando até o dia fatídico em que
já se enxergam sem futuro algum. Uma coisa é certa, se ocorrer como têm dito
que farão, no dia que a ChuPeTreM passar para mãos particulares, e esses
funcionários forem desligados, será um dia de muito trabalho no Quartel da ChuPeTreM e o trem vai circular em Velocidade
Reduzida.
Um comentário:
Ainda bem que o blog é de conteúdo fictício.
Aqui na chupetrem estamos acompanhando histórias muito parecidas com essas relatadas ou caso contrário de pessoas achando que tudo vai passar assim como foi nos últimos 23 anos...
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