Alteza é o pronome de tratamento
usado para se dirigir aos reis, rainhas, ou às antigas casas imperiais. Para
simplificar poderíamos dizer apenas que tal denominação definiria a superioridade
ou o maior valor de alguém socialmente e, entre os ferradoários, o rei é o
Bode. Apesar disso o adjetivo que define o tratamento dispensado à corte
simplesmente não se aplica, o que sempre se verifica é a baixaria.
O motivo do
incomodo ora verificado é a cobrança, dos escravacionais que o Bode sabe que
têm futuro incerto, de valores variáveis de uma tarifa sobre os vencimentos vindouros.
Àqueles que já pagam o dízimo para a manutenção do caprino ser-lhes-á
descontados mais o valor de uma mensalidade e, para aqueles que simplesmente
não pagam o dízimo, ser-lhes há imposto o pedágio de 5% (cinco por cento) de um
ordenado. Tudo devidamente aprovado em uma de suas assembleias fantasmas. Facilmente
se arrecadará mais de meio milhão de Reais sem ter feito nada além do que desempenhar
o papel que a legislação lhes concede: o de representante sindical.
O movimento
sindical entre os ferradoários já é considerado por todos o faz-me-rir da
representação trabalhista. E não é por falta de compreensão do processo, longe
disso, é porque simplesmente não iriam jamais se colocar como entidade
classista em prol de uma categoria omissa, como é a nossa, e se indispor com a
galinha dos ovos de ouro, como se referem à ChuPeTreM. À época do assassinato
doméstico e nunca elucidado do Bode Velho até se esperou que ocorresse alguma
mudança que promovesse a organização da categoria em torno de uma pauta que
defendesse necessidades comuns, mas não foi o que se viu.
Após a misteriosa
morte o novo líder era visto com desconfiança por todos, e o que se viu não
causou estranheza a ningém. Uma entidade já burocrática, fisiológica com a
empregadora, estava por fim domesticada e submetida aos interesses dos lacaios
da ditadura que foram encostados na secretaria estadual de transportes para atuar
como inteligência em questões sindicais. Gente astuta e ardilosa que, em troca
de pequenas vantagens a Bodes – ora pretos, ora mansinhos – manteve, quando foi
necessário, o rei sem alteza que lhes era útil para operar o mal sem oposição
nos trilos bandeirantes.
O ACT que no
corrente se assinou surpreendeu a todos, primeiro pela facilidade e, depois,
pela generosidade do Ferrorama em oferecer dividendos que, embora parcos,
superavam o que era reivindicado.
Sabe-se agora
que tal plano bem orquestrado tem como finalidade única manter sob controle os
ânimos, já suicidas de alguns, com a iminência das demissões que serão impostas
em breve à categoria. Gente que foi vendida e que pode passar agruras graves, e
antes ainda da desgraça serão furtadas com a omissão de diretores que ora fogem
das pessoas em estacionamentos, pátios e escalas sem ter como se justificar por
servir como jagunços da exploração coletiva. Tudo em nome da manutenção – peço licença
ao leitor pelo neologismo – excrescência “cinical”, o império de Sua Baixeza, o
Bode.
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