Quando o
Brasil era colônia os negros sofriam toda sorte de maus tratos, eram marcados a
ferro quente por alguns proprietários escravagistas, açoitados em público e até
para servir de exemplo a outros negros, recebiam tapas na cara, cusparadas e
toda a sorte (ou má-sorte) de humilhações e insultos. Era comum entre eles o aspecto
de devoção e piedade em benefício de seus proprietários, talvez com o objetivo
de docilizar o demônio branco que, como um deus, podia até decidir sua sobrevivência
ou morte sem, no entanto, receber punição ou mesmo crítica por isso. Na colônia,
negro nem era considerado gente.
Poderia passar
a tarde escrevendo detalhes das crueldades cometidas contra os afrodescendentes
no Brasil colônia, mas torna-se desnecessário fazê-lo em virtude da perpetuação
do genocídio que ocorre até os dias atuais. Seja pela mortandade causada nos
confrontos pela polícia, seja por envolvimento com a violência em virtude do
desemprego estrutural que caracteriza nosso país, pela fome, ou pela doença em
função da precariedade econômica e a consequente falta de acesso a médicos e adequadas
condições sanitárias de seus víveres que culminam com o fim precoce de suas
vidas, nada é mais cruel que a morte em função do esforço de passar
desapercebido na sociedade, ou seja, trabalhando para defender e manter uma
sociedade cuja característica é a desigualdade e a exclusão social.
É preciso tirar lições dessas tragédias cotidianas. |
Vigilantes
cada vez mais são empregados terceirizados, mal remunerados, expostos a
condições degradantes de trabalho, desde a superexposição em plataforma
pública, longa jornada de trabalho, sem contar violências sofridas por funcionários
diretos como assédio e ofensas morais, além do risco de transferências
compulsórias quando incomodam a vaidade de algum escorregadozinho com ares de
senhor de engenho. Não bastasse isso fazem um serviço que de fato não lhes
beneficia pessoalmente em nada, pois combater comerciantes ambulantes sob a
justificativa de que sua presença incomoda passageiros é uma inquestionável
falácia. Só vendem e se mantem nos vagões porque os USUS compram seus produtos.
A verdade é
que a elite, verdadeira administradora da vida do brasileiro, faz do país uma
republiqueta, da vida das pessoas um inferno, mas ainda assim se esforça em
parecer que vivemos na Suíça, sem levar em conta o tremendo desperdício de
vidas que são perdidas para manter regras imbecis. Se a questão é taxar, ou
cobrar impostos dos ambulantes, que se crie uma forma de administrar essa
realidade que, há décadas é impossível de corrigir.
E os
trabalhadores, iludidos como pseudo capitães-dos-matos, dado que muitos são
policiais frustrados, portanto não têm outorga do estado para impor a crueldade
da coroa aos miseráveis, precisam acordar e aprender que a melhor resposta a
uma sociedade escravagista, embora que supostamente livre e moderna, mas que se
mantem às custas da destruição de vidas, deles inclusive, é o corpo mole. Isto
é, fingir atuar nessa situação que é, na verdade, matança recíproca entre escravos.
O ambulante, ou o vigilantes, diferem apenas na indumentária, pois ambos são apenas
números, descartáveis e substituíveis, mas, na morte, deixam mães, esposas e
crianças para quem suas vidas realmente importavam.
As empresas
continuam, e você, trabalhador; vale à pena morrer?
Nosso pesar
pelo trabalhador falecido, não é interesse desse e-tabloide ofender a memória
de quem não está entre nós para se defender, mas propor a reflexão, pois essa
realidade não será diferente enquanto não mudar o entendimento sobre a questão.
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